"Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
♥
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
♥
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
♥
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
♥
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos.
♥
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
♥
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada.
♥
Porque metade de mim é o que eu penso
e a outra metade é um vulcão.
♥
Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância.
♥
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
Mas a outra metade, eu não sei.
♥
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
♥
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
♥
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer.
♥
Porque metade de mim é a platéia
A outra metade é a canção.
♥
E que a minha loucura seja perdoada...
♥
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.
♥
[Oswaldo Montenegro]
[Oswaldo Montenegro]
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